Paixão, a vantagem competitiva bottom-up!

Pasme, eu já ouvi, no contexto profissional, coisas como, “cuidado, você é apaixonada demais! ”. Curiosamente, os projetos em que me envolvo com paixão, tem sido sempre marcantes. Me pergunto: Será que existe “medida certa” para aplicar paixão no que se faz? Mesmo assim, não são poucas as pessoas generosas que tem me presenteado com feedbacks estimulantes após uma aula, palestra ou projeto. Então lá vai o piloto automático dando crédito ao trabalho árduo, ao brilho dos colegas com os que o trabalho é feito. Claro que cada componente conta, e muito! Entretanto, dificilmente o olhar repara na própria paixão, que contagia e faz tanta diferença, também.

Como vimos aqui, a paixão está diretamente ligada à atitude positiva sendo ambas pilares fundamentais para inovar ou empreender. Experimentar paixão pelo negócio facilita soluções, até nas situações mais difíceis. O estado de “flow” (*) descrito pelo psicólogo Mihály, um tipo de “transe” emocional e corporal relacionado nada menos que com criatividade, talento e felicidade, pode explicar esse fenômeno. Quando alguém faz o que gosta do jeito em que acredita, em um estágio de exigência que pede mais dela e da sua arte, entra-se em flow. Nele, o desafio se torna não apenas possível, também prazeroso.

Além de ingrediente fundamental, a paixão é um dos poucos pontos de contato entre o universo do empreendedorismo tecnológico e o da inovação empresarial. Pense no início de um empreendimento inovador potencialmente disruptivo: Muito provavelmente uma alta voltagem de paixão é chave para que esse germe de empresa saia do papel. Do mesmo modo, quem responde pela gestão da inovação em empresas, precisa frequentemente de altas doses de paixão, para navegar com otimismo, correntezas de lógicas opostas e as vezes, irreconciliáveis. É em grande parte, a paixão espalhada no processo, que permite encontros onde, normalmente haveria rachaduras. Energia que ativa o começo do novo, do incerto. Alavanca que empurra para não desistir.  Percursos diversos que a paixão viabiliza.

Como é normal, há ciclos altos ou baixos. A paixão pode até despencar com o tempo. O segredo para sustentá-la está intrinsecamente ligado à mentalidade empreendedora à qual dedicamos esse post. Nesse contexto, o motivador vai além do “o que” o negócio faz. Independente do produto ou serviço há  “o por que”, se faz o que se faz ou propósito. Bússola que orienta em qualquer tempestade e paira por cima de tudo, se espalhando além dos limites do negócio. Se apaixonar pelo que se faz é viciante, o tratamento detox é contraindicado e a clareza de propósito é o estimulante principal como ensina Simon Sinek no seu livro “Start with Why”.

Segundo 0 influente sociólogo alemão Max Weber (**), para quem a racionalização ou “burocratização” do trabalho – e de outras esferas da vida – é marca do nosso tempo; a paixão merece menção especial. O intelectual chama a atenção para a intuição e à geração de ideias como consequências da paixão pelo trabalho, em tempos em que buscava entender as transformações sociais advindas do período que, depois viria a ser conhecido como Revolução Industrial : “Mas, o trabalho e a paixão fazem com que surja a intuição, especialmente quando ambas atuam ao mesmo tempo (…). Certo é que as melhores ideias nos ocorrem (…) quando nos encontramos sentados em uma poltrona (…). Seja como for, as ideias nos acordam quando não as esperamos e não estamos sentados à nossa mesa de trabalho, fatigando o cérebro a procurá-las. É verdade, entretanto, que elas não nos ocorreriam se, anteriormente, não houvéssemos refletido longamente em nossa mesa de estudos e não houvéssemos, com devoção apaixonada, buscado uma resposta.

É cada vez mais evidente o quanto os resultados de empresas movidas por propósito, superam amplamente aqueles das suas semelhantes, carentes de tal ignição:

“Empresas com propósito têm melhores resultados financeiros no longo prazo” segundo esse artigo.

O gurú de temas como liderança e cultura, Simon Sinek, faz referência inequívoca ao propósito com o que grandes líderes, ao longo da história têm inspirado pessoas para a ação segundo a sua teseAs pessoas não compram o que você faz, elas compram por que você o faz”.

Traduzido em números, uma pesquisa realizada pelos autores Raj Sisodia, D Wolfe e J. Sheth detalhada no livro – O Segredo das empresas mais queridas – as organizações orientadas por propósito tiveram resultado dez vezes superior do que as empresas do S&P 500 (índice que agrega as 500 ações mais relevantes para o mercado norte-americano) entre os anos de 1996 e 2011. As empresas mais queridas também trouxeram um retorno mais fantástico para os acionistas: 1025% , versus 122% para as empresas listadas no S&P 500 e 316% para as companhias citadas na obra “Empresas feitas para vender” do Jim Collins, no mesmo período. Estes dados demonstram o quanto empresas com um propósito geram resultados superiores. Em outras palavras, pessoas apaixonadas com o que fazem e, portanto, felizes, conduzem a resultado significativamente superiores. Constatação lógica no entanto, não obvia.

Como corolário disso tudo, Ismail Salim, no livro Organizações Exponenciais, faz referência ao MTP do inglês, “massive transformative purpose” (propósito massivamente transformador) como o responsável por dar ignição à paixão que engaja os corações e as mentes de indivíduos e grupos, para a materialização dos objetivos por maior que seja o desafio.

Com a mesma clareza com que a atitude positiva se traduz em resultados favoráveis ao negócio; o contrário também é fato. Sem paixão, o pessimismo se espalha, os problemas nos bloqueiam, a energia se esgota, as ideias acabam, as promessas de valor ficam vazias, os resultados despencam. Tem pior, os talentos, usuários e clientes se afastam. Por isso, apenas resta trabalhar duro de preferencia por aquilo que realmente interessa.

“Working hard for something we don’t care about is called stress. Working hard for something we love is called passion.” -Simon Sinek

Haja círculo virtuoso! Propósito que inspira paixão, que nos bota em flow de criatividade e felicidade que enquanto isso, resultados incluso além do esperado são gerados, que reforçam o sentido de propósito.

 

O estado Flow, ou de Fluxo, é um estado emocional positivo desenvolvido por Mihály Csíkszentmihályi, um dos psicólogos mais prestigiados no estudo da psicologia positiva. Estudou filosofia, religião e arte, e acabou formando-se em psicologia para pesquisar as raízes da felicidade.

** Max Weber(1864-1920) é um dos principais pensadores que colaboraram, entre outros muitos feitos, para a construção da Sociologia.

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