Rotulagem nutricional frontal e coronavirus

Como epidemias, escândalos e outros acontecimentos extremos desafiam o paradigma das regulamentações

“Estamos regulando o passado”, foi uma das provocações mais instigantes proferidas durante o HORIZONTE 20 FOOD. Evento idealizado e organizado por Tacta Food School em 30 e 31/01/2020 em São Paulo e que terá uma edição em Recife ainda em março.

A Dra. Thalita Antony de Souza Lima, Gerente Geral de Alimentos da AVISA, continuou, elencando com detalhes uma lista de desafios aos que organismos regulatórios do Brasil, e não só, vem se enfrentando.

Hoje não há dúvidas, conseguimos perceber a realidade “VUCA” na pele (do inglês- volátil, incerta, complexa e ambigua). 

Com a complexidade de informaçãoes em permanente aumento, a velocidade crescente das mudanças e as pessoas mais participativas nos processos de consulta pública, o setor de alimentos da ANVISA possui o maior estoque regulatório da entidade, segundo explica Thalita. A demanda pode até ser explosiva mas, não há como aumentar a estrutura de atendimento ao mesmo ritmo para dar adequada vazão.

Com relação ao mesmo fenomeno, o Dr. Luis Carlos França – Diretor de Inovação do MAPA já tinha alertado na sua palestra do dia anterior, sobre a necessidade de revisão das rotulagens é não apenas para o Brasil mas para todos os “MAPAs” do mundo. Ele disse “rotulagens mudam muito rapidamente e há, logicamente sempre problemas de estrutura”.

 
Em outras palavras: Uma demanda explosiva com uma estrutura práticamente estática para atendé-la.
 

Outras palestras do mesmo eventos trouxeram a tona os claros motivos dessa explosão da demanda regulatória:

  • Novas tecnologias chegando rápidamente ao universo alimentar nos aproximando da carne de laboratório, inteligência artificial e algoritmos gerando as novas soluções (me too) plant-based para hamburguers, leites e ovos entre outros, sensores inteligentes com IoT, transparência com aplicação de Blockchain e por ai vai.
  • Ao tempo que processos como tomada pública de subsidios  são um convite permanente para fazer ouvir as vozes de quem quer participar. Mais pessoas, mais contribuições, mais possibilidades, mais imponderáveis.

A complexidade e incertezas, só aumentam.

Consumidores mais conscientes e organizados, ativistas do alimento brandindo o poder da opinião, são cada vez menos a exceção. E nem falar das novas gerações mais conectadas, e mobilizadas.

Vivemos tempos empolgantes, únicos.

Haja dilema!

Seja bemvinda a CRIATIVIDADE HUMANA (aliada com tecnologia, claro!)

Como sairmos desse labirinto que só expande (parece Big Bang) e fica mais intrincado?

O único do que tenho certeza é que, aplicando os procedimentos atuais só vamos ficar no looping. Isto é, presos no passado.

Nem mais funcionários, nem mais tecnologia servem se for no mesmo modelo mental, os mesmo modo de abordar os problemas, o mesmo paradigma. 

E como isso tudo é afetado por crises ou por catástrofes como epidemias, grandes contaminações, desastres ambientais, por exemplo?

Vejamos o caso da catastrofica e atual pandemia do coronavírus. Olha o quanto alimentos e surto estão conectados. Perceba o tamanho da vulnerabilidade por apenas considerar alguns dos graus de liberdade inesperados que se contorcem na já abastada teia de caos crescente:

  • Um mercado de rua (de alimentos) 
  • Uma cidade imensa, a de Wuhan onde habitam de onze milhões de pessoas!
  • Uma variedade de animais emplinhados em pessimas condições como; texugos, civetas, morcegos, tartarugas, ratos de bambu e outros animais selvagens, usados como comida.
  • O país mais populoso do planeta, determinou o aumento da produção de alimentos na cara da crise descontrolada de contagios.
  • Por aqui, do outro lado do mundo, executivos cogitam que a segurança alimentar do produto brasileiro pode impulsionar a demanda por carne bovina, nesse contexto de caos.

Na verdade, se era para ilustrar “gatilhos de catastrófe” vinculados com alimentos e bebidas como os de acima, nem precisava ir tão longe assim. Era apenas trazer a tona a cerveja contaminada com dietilenglicol ou a água de torneira do Rio de Janeiro enriquecida em esgoto e os seus inúmeros desdobramentos noticiados e invisíveis (para quem está longe).

Por falar em cerveja, uma manchete emerge e colide com o senso comúm:  ‘CERVEJA CORONAVÍRUS’: NOME DE MARCA MEXICANA GERA CONFUSÃO NAS REDES SOCIAIS’ – Desde o surgimento de epidemia global, plataforma de buscas registrou aumento de 1.100% de consultas pela bebida em todo o mundo. Bom, quem disse que todos os impactos no setor alimentar seriam negativos, não é?

Em meio a isso tudo, enxergo uma certeza: Se é para garantir segurança e transparência dos alimentos, certamente não é sob o reinado dos processos, conceitos e paradigmas atuais.

Há, sem dúvidas, muito mais dos nossos processos de ação e de pensamento a serem revisitados ou até virados de ponta cabeça e não estou me referindo apenas, ao rótulo do painel frontal.

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